TOLICE
UNIVERSAL
(Texto escrito para o Jornal Folha do Sudoeste, no ano de 2005)
“Foi
difícil aprender que a gente tem que respeitar a realidade; e mais
difícil, foi aprender que ela não tem nenhum motivo para nos
respeitar”
(Eduardo Galeano).
Não
canso de repetir que a falta de atitude em relação a coisas tão
pequenas far-nos-á, algum dia, pecar com coisas maiores.
Dirigidos
pelos insistentes discursos jornalísticos, ou por mera preguiça “do
pensar”, guiados pela opinião de algum dos “milhares de experts
no assunto”, reclamamos a todo instante do descaso e corrupção
política, mas em contrapartida, nada fazemos para as coisas serem
diferentes.
Que
exemplo damos a nossos filhos, omitindo ou se mantendo omisso às
coisas cotidianas, varrendo – “quando varremos!” – pequenas
“sujeiras” para debaixo do tapete?
Vamos
ser sinceros: será que não faríamos as mesmas barbaridades, se
estivéssemos na mesma posição que nossos políticos?
Se
somos capazes de subornar um guarda, furar uma fila no banco ou
simplesmente deixar de coletar as fezes de nossos cães, das
calçadas... é quase óbvio... Muitos dirão não ser a mesma coisa;
mas sinto muito desapontar... É a mesmíssima coisa!
Na
verdade, falamos demais.
Às vezes, manter-se calado é
uma grande virtude.
“O
silêncio é o ouro dos pobres”, enfatizou Chaplin, com sua
simples e modesta genialidade.
E
o ser humano – em especial, nós, brasileiros – adora opinar:
quem matou a menina, quem foi o responsável pela queda do avião,
quem atirou primeiro, teve tiros antes ou depois, quem foi o
culpado... Afinal: todo mundo opina, critica, acusa e – em pouco
tempo – esquece... Não tenho muita opinião sobre estas coisas e,
aliás, respeito as fatalidades, a dor dos familiares, mas creio que
esse martírio de informações saturadas beira a “banalidade das
telenovelas jornalísticas”... E eu, com minha vida simples, não
tenho nada a ver com isso. Não quero saber de quem foi a culpa do
acidente do avião que seja, quem jogou a menina da janela, se ela já
estava morta ao ser jogada, se a bomba estourou antes ou depois de
algum disparo de arma de fogo de “um corno amargurado”.... Ora,
se quer matar a ex-namorada, que entre lá e acabe tudo com um só
disparo, não fique lá fazendo “novela”, gastando o dinheiro que
pagamos em impostos para serem usados para segurança pública... a
polícia tem muito mais o que fazer que ficar lá plantada por dias,
impedindo a vida normal, o direito de ir e vir e a privacidade de
centenas de pessoas que nada tinham a ver com aquela banalidade. É
trágico? Claro que sim!!! Mas ninguém mais, além daquelas poucas
pessoas envolvidas, tem a ver com aquilo tudo. Não é questão de
insensibilidade... mas se eu estivesse no comando, sinceramente,
daria ordens para acabar com o covarde, na primeira aparição na
janela... um só disparo, certeiro, bem no meio da testa...
pronto!... tudo resolvido... e, assim, voltaríamos a nossa vida
normal. Simples assim... E com o “bônus” de duas vidas; duas
garotas a salvo.
No
Brasil é assim: ninguém sabe, exatamente, o que se passa com sua
própria vida, com seus familiares, em sua casa; mas o interesse pela
vida alheia, a vontade utópica de estar envolvido, de alguma forma,
com fatos que fogem a sua realidade, de quebrar a barreira da
individualidade, da particularidade dos problemas de um terceiro, é
um alarde popular. Mas claro, sei que isso é um fenômeno universal,
humano. Não é exclusividade de nós brasileiros... O ser humano é
mesmo assim... O brasileiro só é... como posso dizer?... um pouco
mais... não... muito mais!
Agir
de forma segura e prudente, calculando uma possível falha que possa
causar acidente, não faz parte do cotidiano do povo brasileiro.
Graças ao “apreço” que temos com a “Mãe Natureza”, não
temos vulcões, terremotos, maremotos, furacões ou qualquer outro
fenômeno de maior gravidade... senão, seria nosso fim.
Sei
que – infelizmente – os brasileiros são assim: só tomam
atitudes depois que o pior acontece. É quase um atestado de burrice,
cultural do brasileiro. A cultura da estupidez. O brasileiro só
passou a usar cinto de segurança, quando começou a receber multas,
e olha que é um acessório de segurança pessoal. Prestem atenção
no cheiro terrível que exalam as “bocas-de-lobo” (bueiros) nos
centros de nossas cidades... Saibam que é porque muitas construções
lançam seus dejetos (esgoto) em tubulações de água pluvial (que
só deveriam escoar águas de chuva). Isso denota a arrogância, o
mau-caratismo, o desdém para com a sociedade que convive... Não
interessa o bem estar, a saúde, o meio ambiente ou sequer o bom
senso. São sim, irresponsáveis, corruptos, inescrupulosos e não
estão nem aí para o problema... nem mesmo se este problema também
os afete.
Aquela
velha mania de brasileiro, de esperar que os outros façam primeiro –
ou de pensar: “ah, todo mundo faz mesmo...”, “ah, é só uma
coisinha de nada...”, “do que adianta eu me preocupar, ninguém
respeita mesmo!” – é o problema de tudo que sofremos. É um
problema, um paradigma, de centenas de anos, herança de nossa
colonização. Quem povoou as terras brasileiras, veio atrás de
riquezas, bem no estilo “custe-o-que-custar”, o mesmo estilo que
vivemos até os dias de hoje... Não tinham o hábito da leitura e
não tinham outra opção de escolha.
Assim
somos nós: herança de um povo sem cultura, oportunista e sem
qualquer escrúpulo.
E
o que fazemos para mudar essa situação?...
Nada!
Nossos
filhos estão aí, assistindo nossas atitudes, aprendendo nossos
erros e manias – e não, infelizmente, aprendendo com –.
É
isto...
Infelizmente
estamos seguindo o mesmo caminho que nossos colonizadores...
e vamos estar nele...
até
que as pequenas atitudes...
façam
a diferença.
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