A FONTE DAS GAROTAS CERTAS
A Arte é alheia ao tempo... a Arte não foi, ela é...
Alguém, em uma conversa, lembrou da obra "A Fonte", de Duchamp... Logo, veio-me à mente a banda paulistana dos anos 80, cuja capa de seu disco faz referência à obra.
"Akira S & As Garotas Que Erraram"...
Estes usaram do mesmo conceito "subversivo", na concepção de uma obra inovadora na música brasileira.
Com letras inusitadas e de certa complexidade, um tanto desconfortáveis - por tirar-nos do elo comum -, usa do baixo elétrico como base de concepção, cuja força, calcada em timbres e texturas precursoras de um conceito às avessas, um tanto "antiguitarrístico", propele sons em "perfeita" contramão, atropelados por um vocal visceralmente desesperado, desconexo e estridente, grunhindo belamente - como se isso fosse possível - coisas do tipo: "o meu amor serrano desceu pelo cano/o meu amor praieiro dançou, salvo engano"... ou: "você dirige o automóvel, eu lhe dirijo argumentos"...
Letras fortes, despretensiosas e poeticamente lindas.
O disco é um marco quase "desconhecido" na música brasileira.
A capa, de incomum criatividade, com texturas e materiais distintos, entre plástico e papel, faz desta própria uma perfeita poesia textural, como se as digitais fossem olhos, como se um cego usasse dos dedos, do tato, e lesse um lindo poema em braile.
Akira S & As Garotas Que Erraram não é um prato de arroz com feijão e ovo frito, que você mastiga e engole rapidamente...
Apreciar a arte exige um paladar apurado...
Digerir a arte - indigesta, para muitos - exige tempo...
Akira S & As Garotas Que Erraram é arte, na sua mais pura essência...
Mas... "Você diz a verdade quando mente"...
E "Engano/ seguido de enganos/ seguidos de planos/ que referendam os enganos/ Lato sensu"...
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