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sexta-feira, 18 de junho de 2021

A CHIBATA DO TEMPO


A CHIBATA DO TEMPO


Texto publicado no Jornal Folha do Sudoeste - Via Poiesis - em 15/06/2021 

http://jornalfolhadosudoeste.com.br/2021/06/15/a-chibata-do-tempo/


        Quando nasci, o ano da morte do filho* do lixeiro e da empregada doméstica, que, com sua genialidade, por volta de 1929, respondera, em versos, a uma questão de uma prova de Física, pude sentir todo o ódio do mundo. Soube disso, obviamente, muitos anos depois, mas sei o que senti, pois esta seria a carga que me deprimiria por toda minha vida. Fui uma criança de poucos sorrisos.

        Quando se tem cinco anos de idade, o mundo é muito estranho... e o prazer e o medo andam lado a lado. Uma mudança nunca é confortável... e quando se é criança demais para entender os porquês, e o sofrimento - e a angústia - e a grande preocupação dos pais sai, feito suor, pelos poros, o trauma por medo é carregado feito chumbo... torna-se um peso para a vida toda, que vez por outra vem à tona. Eu lembro exatamente do dia em que chegamos àquela vila... a madrugada era fria... não sei se para o corpo... ou para a alma.

        O amor havia, mas, por longos anos, fora suprimido pelo mal. Este, sem piedade e sem qualquer remorso, castigou-nos por longos e penosos anos... dias de amarguras, de tamanha carga negativa, que era possível senti-la no ar. Algo tão denso e viscoso que uma navalha poderia cortá-lo; mas a regeneração do mal era certa. Um verdadeiro choque na alma, que, aos conscientes, não seria apaziguado tão cedo.

        O amor, sim, havia... e até salvou minha vida quando a medicina dissera que eu estaria mentindo; "pura manha" foi o que ouvi, ao longe... foi quando, ainda aos sete anos, descobri o que era arrogância.

        Vivi dias maravilhosos também... muitos! Havia uma liberdade livre das atribuições ou atribulações do medo, uma animosidade suprimida pela inocência. Mas os dias sublimes eram recheados de subtâneas e injustificáveis vergastadas que não habitavam somente os pesadelos. E os pesadelos eram recorrentes... e vivos!

        O amor, quase que compulsoriamente, havia; mas não havia tempo de expressá-lo... os dias eram difíceis... muitos encargos diários que não cabiam em um só dia. Os sentimentos foram suprimidos pelas dificuldades cotidianas. Quando não se vence o sofrimento - as angústias - o coração empedra-se. É acrimonioso o coração de quem pena.

        E a vida seguia seu curso... e os pedaços de mim perderam-se pelo caminho... e pelo tempo... e nunca mais eu pude resgatá-los.

        Como os anos quebram-se, feito vidro ao cair ao chão!

        O tic-tac do relógio - coisa que não existe mais na vida das crianças de hoje - incomodava-me muito, e não adiantava em nada pará-lo... o tempo não obedecia às minhas vontades, o tempo empurrava-me com força.

        O ano era 1979... e aqui, eu desceria um degrau em minha relação social. Uma outra mudança repentina doeu muito, e muito ficaria, definitivamente, para trás.  O choque cultural, as malícias que eu não conhecia; o ludíbrio moral... a falta de tudo que não coube na mudança, e jamais caberia... o âmago; conquista de um espaço abstrato entre a dor da lapada e a liberdade da inocência. Até esse momento, eu precisava apenas ser eu. Esse era o único valor que realmente importava... tudo, e todo o resto fora da essência do ser, eram apenas futilidades, mundanas demais para serem relevadas. E agora, tudo mudou. O avesso da alma desnuda...

        Entendi que estaria sozinho... a sensação daquele momento poderia equivaler-se a estar trancado em um quarto escuro com um tigre.... e eu não tinha escolha.

        O amor, à distância, havia; mas não se podia sequer ouvi-lo. Eu não estava só, mas éramos três crianças, inconscienciosamente aos cuidados de outra. Cem quilômetros foram estabelecidos para que pudéssemos estudar... e não havia nenhuma forma de  contato. Viver sozinhos foi a única opção de "vida melhor"... um quase abandono obrigatório por circunstância única. É difícil compreender, mas fora um desarrimo por amor. Expressão única, personificação abstrata. Sim ou não, amor deve ser o que vocês acreditam ser Deus. Eu, no entanto, não compreendo amor, tampouco Deus. Eu aprendi a olhar o mundo por mais de duas perspectivas, mas a superficialidade eu via em todos os outros, para onde quer que eu olhasse.

        Só uma coisa mudou, naquele momento, para melhor... e, por algum tempo, eu sequer percebi. Foi aí que aprendi que o amor desfere chibatadas, com maestria.

        E eu odiava ouvir a Rita Lee... "nas duas faces de Eva, a bela e a fera"... esse era o sinal de que chegara a hora de ir para a escola. Naquele momento, a escola não era um lugar confortável para mim... lá eu apanhei, fui humilhado, roubado... fui excluído por ser pobre, rejeitado por ser forasteiro; ninguém sabia da minha origem, nem conhecia minha família. Para eles eu não tinha nada a oferecer e, obviamente, isso incluía nada mais que matéria.

        A escola era pública, mas havia uma divisão de classes absurda e eu estava exatamente no meio da balança... rejeitado, por um lado, por não ser tão pobre, e por outro, por ser pobre demais. A timidez, naquele momento, não me ajudava em nada... e a introversão, muito menos.

        Hoje, até agradeço... talvez, tornar-me-ia apenas mais um ser volúvel, persuadível, de extrema futilidade. Afinal, é caindo que se aprende andar... as dificuldades trazem valor à vida. Agora, entendo a efemeridade daquele tapa social e o bem que a dor trouxe para a formação de minha personalidade... mas, à época, um ano era interminável... e a dor era intensa.

        Muita coisa rolou, durante seis anos... o bem e o mal trilharam abraçados... amantes, absurdamente, inseparáveis. Descobri que o bem é - quase sempre - frágil... e o mal - sempre - a personificação do próprio Mal.

        1984 foi um ano limítrofe, e eu sequer havia lido Orwell... e uma sensação anárquica fervilhava dentro do meu eu.

        No ano anterior, muita coisa anunciava o que viria de mim... eu estava cansado. As chibatas do tempo, as feridas abertas na alma, as máculas de uma vida inteira, são as forjas que moldam a personalidade... efígie gravada na consciência.

        A virada de ano trouxe, com apenas mais uma data, um novo eu. A timidez e a introversão continuavam a existir, como existem até os dias de hoje, mas eu as esmagara debaixo de toneladas de ódio, jogadas no porão da mente. Mesmo subvertendo meu próprio ser, jamais fui falso, sempre fui verdadeiro, apenas havia suprimido angústias e medos.

        Nesse momento, descobri que eu poderia ter algo a oferecer... e percebi que a cultura e o conhecimento poderiam ser armas para conquistar o meu espaço, mesmo na mais leviana sociedade... e que isto teria um valor inestimável, mas que ninguém - jamais - poderia roubar-me.

        Ouço vozes o tempo todo... não é insanidade! São lampejos da razão... centelhas de uma vida inteira, plasmada no que realmente sou...

        A dor deu lugar ao juízo... as feridas da alma, transmutadas em pura lucidez; a prudência é a mão em meu peito... que agora, empurra-me contra o tempo.

...

* Carlos Marighella nasceu em Salvador, em 1911; filho de Augusto Marighella, um imigrante italiano, e Maria Rita do Nascimento, negra e filha de escravos. Antes de tudo, e - talvez - mais importante que quaisquer de suas ações, Marighella era um grande poeta. A poesia é a força motriz da consciência ativa, base de qualquer revolução. Foi preso por uma de suas poesias. Foi torturado por pensar. Marighella foi morto a tiros, em uma emboscada, no dia 04 de novembro de 1969. Se foi um herói ou um vilão, não cabe a mim julgar... enfim, essa não é a história de Carlos Marighella... é apenas uma representação do ódio que pairava no ar. Sete dias depois, numa terça-feira, um fórceps trazia ao mundo mais um "pensador inconformado"... essa é a minha história!

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A Chibata do Tempo


terça-feira, 25 de maio de 2021

A SAUDADE SERÁ O SEU INFERNO


A SAUDADE SERÁ O SEU INFERNO


Sinto imensamente, meu amigo...

Estamos perdendo conhecidos, colegas, amigos e parentes... e, a muitos, parece que o mundo parou em uma estática doentia em que a razão perdera a razão...

É lastimável que esta doença viral tão invasiva tivera coincidência cronológica com essa psicose ainda mais danosa ao país...

Muitos enxergam médicos como deuses, políticos como anjos que vieram pra nos salvar e padres e pastores, como um elo de ligação divina... 

Vejo pessoas divulgando laboratórios farmacêuticos, como se fosse a grande salvação.

Vejo fanatismo irremediável ao saírem pela tangente a cada nova decepção àquilo ou àqueles que defendem ou defendiam fervorosamente.

Vejo fé demais àqueles que dizem servir ao divino e quase nula quando o real divino se faz presente. Divina é a natureza que destruímos... divino é o povo humilhado... divino é o pescoço a que você sempre pisa.

É uma grande bobagem o que estamos vivenciando! Essa imbecilidade política não vai salvar-nos... nem essas miracle drugs ou seus pseudo-protocolos de tratamento precoce... talvez, nem as vacinas, se a gente não se cuidar.

E a fé... esta pode acalentar... e poderia, de repente, até nos salvar, se real e verdadeira, realmente fosse. A fé por medo, a fé por engano, a fé por ignorância ou a fé por desespero, nunca nos salvará de nada!

A pandemia é real... há muitas covas abertas em tão pouco tempo...

O tempo passa rápido e a dor deixa seus rastros...

Vai passar?

Vai! Tudo passa!

A dor passa, o sofrimento passa... e a virose também terá seu tempo...

Mas a saudade, meu amigo, ao contrário da vida... é eterna...

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noite


domingo, 2 de maio de 2021

BATO PALMAS PARA AUGUSTO

Uma das minhas grandes influências... Augusto dos Anjos, nascido em 20 de abril de 1884, faleceu jovem, vítima de uma pneumonia - possível complicação de um quadro asmático -, aos seus, apenas, 30 anos... dois anos após o lançamento de seu único livro, "Eu".

Morreu decepcionado com o "fracasso" de seu próprio livro... 

Hoje, "Eu" é um das obras poéticas mais reeditadas do Brasil.


"Quando pararem todos os relógios
De minha vida, e a voz dos necrológios
Gritar nos noticiários que eu morri,
Voltando à pátria da homogeneidade,
Abraçada com a própria eternidade
A minha sombra há de ficar aqui!"
(trecho de "Debaixo do Tamarindo", Augusto dos Anjos)



BATO PALMAS PARA AUGUSTO


(Escrito em 08/04/2018)


Hoje resolvemos sair... a demora é a arte das esposas, a fim de polir a paciência dos maridos.

Enquanto aguardo a mulher... 'bora' ler uns trechos de um "vagabundo nordestino", "anônimo" ridicularizado pela elite literária brasileira, a qual incluía Olavo Bilac, que, diante a cegueira elitista, incapaz de reconhecer a genialidade poética, zombou da morte de um colega, pelo simples fato de ser parte dos "excluídos"... história que permeia a elipse cataclística do DNA da classe dominante... 

E quando falo de classe dominante, não falo de 'gente normal', como nós, falo dos bilionários que dirigem - às escusas - todas as "máquinas" do poder vigente... ou, na arte, dos idolatrados, levantados em egoicos púlpitos, altares do egoísmo doentio.

Somos alguma espécie de afídeo que sustenta o grande formigueiro, de uma sociedade onde as 'rainhas' zombam de nós e as 'operárias' sentem-se importantes em servi-las...

Augusto dos Anjos somente fora reconhecido quase uma década depois de morto...

E a disparate vomitada de Bilac foi algo como: "Tinha mais é que morrer mesmo, só assim não nos obriga a ler esses lixos" ... ou, de forma mais 'bonitinha': "Fez bem em morrer, não se perde grande coisa"... não se sabe, ao certo... e não valeria a pena saber...


"Quebrei a imagem dos meus próprios sonhos!" (Augusto dos Anjos, em Vandalismo)

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Eu


quarta-feira, 8 de julho de 2020

BUKOWSKI


BUKOWSKI


Charles Bukowski confiava nos gatos, mas nunca – ou muito raramente – nas pessoas.

Passou grande parte de sua vida, só, entre um gole e outro, alguns livros, seus pensamentos e as verdades nuas da essência humana, que ninguém jamais ousara ver, refletir ou falar abertamente sobre.

Bukowski foi um murro na boca do estomago!

Não foi uma pessoa fácil e não veio ao mundo para agradar.

Morreu em 1994... mal presenciou a internet e jamais poderia imaginar o que viria ser os smartphones e o impacto que exerceriam na moderna e desastrosa vida (???) humana...

Bukowski não viu o futuro e pouco se importava realmente com isso... mas pode prever a que ponto da mazela social a humanidade desceria...

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BUKOWSKI


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Charles Bukowski - This Flag Not Fondly Waving
(from 'The Continual Condition', 2009 – livro póstumo)

"Esta Bandeira Não Acena Carinhosamente"

"agora são computadores e mais computadores
e, em breve, todos terão um...
crianças de 3 anos de idade terão computadores
e todos saberão tudo
sobre todo mundo,
antes de conhecê-los
e, portanto, não quererão encontrá-los.
ninguém mais vai querer encontrar
mais ninguém...
e todos serão
reclusos,
como eu sou agora."

...

"now it's computers and more computers
and soon everybody will have one,
3-year olds will have computers
and everybody will know everything
about everybody else
long before they meet them
and so they won't want to meet them.
nobody will want to meet anybody
else ever again
and everybody will be
a recluse
like i am now."


quinta-feira, 21 de maio de 2020

TOLICE UNIVERSAL


TOLICE UNIVERSAL



(Texto escrito para o Jornal Folha do Sudoeste, no ano de 2005)


Foi difícil aprender que a gente tem que respeitar a realidade; e mais difícil, foi aprender que ela não tem nenhum motivo para nos respeitar” (Eduardo Galeano).


Não canso de repetir que a falta de atitude em relação a coisas tão pequenas far-nos-á, algum dia, pecar com coisas maiores.

Dirigidos pelos insistentes discursos jornalísticos, ou por mera preguiça “do pensar”, guiados pela opinião de algum dos “milhares de experts no assunto”, reclamamos a todo instante do descaso e corrupção política, mas em contrapartida, nada fazemos para as coisas serem diferentes.

Que exemplo damos a nossos filhos, omitindo ou se mantendo omisso às coisas cotidianas, varrendo – “quando varremos!” – pequenas “sujeiras” para debaixo do tapete?

Vamos ser sinceros: será que não faríamos as mesmas barbaridades, se estivéssemos na mesma posição que nossos políticos?

Se somos capazes de subornar um guarda, furar uma fila no banco ou simplesmente deixar de coletar as fezes de nossos cães, das calçadas... é quase óbvio... Muitos dirão não ser a mesma coisa; mas sinto muito desapontar... É a mesmíssima coisa!

Na verdade, falamos demais.


Às vezes, manter-se calado é uma grande virtude.


O silêncio é o ouro dos pobres”, enfatizou Chaplin, com sua simples e modesta genialidade.

E o ser humano – em especial, nós, brasileiros – adora opinar: quem matou a menina, quem foi o responsável pela queda do avião, quem atirou primeiro, teve tiros antes ou depois, quem foi o culpado... Afinal: todo mundo opina, critica, acusa e – em pouco tempo – esquece... Não tenho muita opinião sobre estas coisas e, aliás, respeito as fatalidades, a dor dos familiares, mas creio que esse martírio de informações saturadas beira a “banalidade das telenovelas jornalísticas”... E eu, com minha vida simples, não tenho nada a ver com isso. Não quero saber de quem foi a culpa do acidente do avião que seja, quem jogou a menina da janela, se ela já estava morta ao ser jogada, se a bomba estourou antes ou depois de algum disparo de arma de fogo de “um corno amargurado”.... Ora, se quer matar a ex-namorada, que entre lá e acabe tudo com um só disparo, não fique lá fazendo “novela”, gastando o dinheiro que pagamos em impostos para serem usados para segurança pública... a polícia tem muito mais o que fazer que ficar lá plantada por dias, impedindo a vida normal, o direito de ir e vir e a privacidade de centenas de pessoas que nada tinham a ver com aquela banalidade. É trágico? Claro que sim!!! Mas ninguém mais, além daquelas poucas pessoas envolvidas, tem a ver com aquilo tudo. Não é questão de insensibilidade... mas se eu estivesse no comando, sinceramente, daria ordens para acabar com o covarde, na primeira aparição na janela... um só disparo, certeiro, bem no meio da testa... pronto!... tudo resolvido... e, assim, voltaríamos a nossa vida normal. Simples assim... E com o “bônus” de duas vidas; duas garotas a salvo.

No Brasil é assim: ninguém sabe, exatamente, o que se passa com sua própria vida, com seus familiares, em sua casa; mas o interesse pela vida alheia, a vontade utópica de estar envolvido, de alguma forma, com fatos que fogem a sua realidade, de quebrar a barreira da individualidade, da particularidade dos problemas de um terceiro, é um alarde popular. Mas claro, sei que isso é um fenômeno universal, humano. Não é exclusividade de nós brasileiros... O ser humano é mesmo assim... O brasileiro só é... como posso dizer?... um pouco mais... não... muito mais!

Agir de forma segura e prudente, calculando uma possível falha que possa causar acidente, não faz parte do cotidiano do povo brasileiro. Graças ao “apreço” que temos com a “Mãe Natureza”, não temos vulcões, terremotos, maremotos, furacões ou qualquer outro fenômeno de maior gravidade... senão, seria nosso fim.

Sei que – infelizmente – os brasileiros são assim: só tomam atitudes depois que o pior acontece. É quase um atestado de burrice, cultural do brasileiro. A cultura da estupidez. O brasileiro só passou a usar cinto de segurança, quando começou a receber multas, e olha que é um acessório de segurança pessoal. Prestem atenção no cheiro terrível que exalam as “bocas-de-lobo” (bueiros) nos centros de nossas cidades... Saibam que é porque muitas construções lançam seus dejetos (esgoto) em tubulações de água pluvial (que só deveriam escoar águas de chuva). Isso denota a arrogância, o mau-caratismo, o desdém para com a sociedade que convive... Não interessa o bem estar, a saúde, o meio ambiente ou sequer o bom senso. São sim, irresponsáveis, corruptos, inescrupulosos e não estão nem aí para o problema... nem mesmo se este problema também os afete.

Aquela velha mania de brasileiro, de esperar que os outros façam primeiro – ou de pensar: “ah, todo mundo faz mesmo...”, “ah, é só uma coisinha de nada...”, “do que adianta eu me preocupar, ninguém respeita mesmo!” – é o problema de tudo que sofremos. É um problema, um paradigma, de centenas de anos, herança de nossa colonização. Quem povoou as terras brasileiras, veio atrás de riquezas, bem no estilo “custe-o-que-custar”, o mesmo estilo que vivemos até os dias de hoje... Não tinham o hábito da leitura e não tinham outra opção de escolha.

Assim somos nós: herança de um povo sem cultura, oportunista e sem qualquer escrúpulo.

E o que fazemos para mudar essa situação?...

Nada!

Nossos filhos estão aí, assistindo nossas atitudes, aprendendo nossos erros e manias – e não, infelizmente, aprendendo com –.

É isto...

Infelizmente estamos seguindo o mesmo caminho que nossos colonizadores...

e vamos estar nele...

até que as pequenas atitudes...

façam

a diferença.



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terça-feira, 28 de abril de 2020

AH, MEUS CAROS!


Ah, Meus Caros!


Não sou perfeito, não sou dono da razão, não sou especialista em nada... sou gente comum... mas... penso.

Leio sobre tudo, qualquer coisa... mas - considero - nem leio muito... não decoro o que leio e não sei fazer uma citação sequer daquilo que acabara de ler... Leio e - simplesmente - entendo. Se eu não entendi, leio novamente, procuro outras fontes, releio. Leio Deus e o Diabo, o lado A e o lado B, não me contento com uma só opinião sobre algo.

Pesquiso sobre qualquer coisa... quem me conhece, sabe... até as coisas mais "inúteis"... embora acredite, tenho certeza, que nada seja inútil... tudo participa de um complexo de lógica.

Ler, pesquisar, estudar... é o que eu faço.

Ler é como abrir passagens... caminhos que nos levam ao discernimento sobre vários assuntos. Saber um pouco de tudo cria ligações para o inimaginável. É impressionante as deduções que surgem, aparentemente, do nada... as inferências surgem das menores premissas. Muitas vezes, basta-me ouvir algumas poucas palavras... as deduções surgem por lógicas, disparadas por ligações neuronais... resposta da soma de fragmentos de muitos dos poucos que já fora lido... este é um tipo do chamado "sexto sentido".

Pois é...

E é difícil acreditar em algo, quando se tem discernimento...

E descobri que ter bom senso coloca-lhe de frente à insensatez, repulsa, rechaço... 

Não é nada fácil... mas nego-me a ser mais um dos iguais.

Isto tem levado a atritos constantes, a ser-me tachado de tudo que não sou...

E, na verdade, com isso, nem me importo... O que não sou - pode ter certeza - é covarde... Não vou curvar-me à imbecilidade, à subserviência indigna... Não sou gado, não sou rebanho, não sou parte de um joguinho de outrem. Não me curvarei ao conforto dos enganados...

Quando, há alguns anos, falei aquilo que via, que entendia e pensava sobre coisas, instituições e pessoas... simplesmente fui rechaçado... vi, claramente, muito (e um pouco mais) de muita coisa que muitos agora veem... fui  esculachado por dizer o que muitos agora bradam...

Seria minha vez de distribuir belos tapas nas caras dos estultos?

Acho que sim.

Tolero a inocência...

... a burrice, nunca!

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segunda-feira, 7 de outubro de 2019

PLASMADO PELAS ADVERSIDADES


Plasmado pelas adversidades



A misantropia, certa vez, esmagou minha alma...
Eu não tinha a menor ideia de onde estava, o que, realmente, fazia e que “diabos” faria dali para frente.

Percepção, pensamento, memória e razão...
Os mecanismos cognitivos, rapidamente, me abandonavam.

A vida, pouco a pouco, deixava de fazer sentido. E eu deixara o sentido da vida, feito água, passar por entre meus dedos.
Já não me importava com o que fora o passado, o que estava sendo o presente e o que, por fim, me reservava o futuro.
Minhas frases perderam o sentido.
As conclusões sobre o que era certo ou errado, pouco importavam.
Havia deixado muito, para trás, na busca de um futuro que agora não mais interessava. Eu não tinha mais aquela certeza do que, realmente, aspirava.

Um ímpeto fugaz...
Esta era a certeza que agora fazia sentido para mim...
Joguei-me no abismo do inconsciente mais profundo.

A vida era apenas dias... e os dias, intermináveis!
Um desespero latente e dissonante.

Mas nada é por acaso... Hoje sei... 
A crisálida do desespero é o caminho para a vida plena!

Aquela fase da minha vida passou despercebida para muitos. Eu engolia minha angústia, ao acordar pela manhã. Havia um longo percurso a percorrer e ninguém o faria por mim.
Tive momentos de lucidez e aprendi a lidar com aquela melancolia, ludibriar a solidão e subjugar os pensamentos negativos.
Jamais aprendi tanto sobre mim.

E a vida sempre toma seu curso...

Minha “nulidade-religiosa” – eponímia que inventei para não ter que explicar a condição de ceticismo – não me impede de analisar e compreender a natureza humana. Também não me impede de ver a razão das coisas, quando estas, realmente, fazem sentido. Na verdade, não ter um compromisso com essa “base religiosa”, possibilita-me “ver o jogo, de fora”, analisar friamente, sem sofrer influência da afeição, da culpa, do medo ou da “ideia pré-formada”.
Minha inquietude e curiosidade em relação àquilo que não domino, aliado ao senso crítico e autodidatismo, foi o que me levou a conhecer um pouco do que nós – humanos – arrastamos pelo tempo.
Todas as experiências de vida, sofrimentos e angústias, desafios e superações, tristezas e alegrias, podem ser comprimidas e transmutadas na mais pura lição de vida.

A crisálida do desespero é o caminho para a vida plena...

Cada obstáculo superado fica evidente, a quem faz da mente um instrumento de compreensão, de equilíbrio entre real e imaginário. E nada, nenhum destes obstáculos, nenhuma humilhação ou agressão sofrida precisa, necessariamente, ser transformado em ódio ou qualquer forma de revolta ou ojeriza.
A verdadeira lição de vida nunca está no outro...
Olhar para si, analisar o seu eu, pode trazer a luz para a compreensão, a paz como estrutura de conciliação, a verdade como um “sagrado” mecanismo sutil de superação.
O real sentido da vida não está fundamentado em religiões ou crenças...
O real sentido da vida é perpetuar o que há de melhor em cada um de nós. Assim, fazem todos os seres... lutam para a perpetuação de sua espécie e, de alguma forma, sabem: a continuidade de sua espécie é interdependente de outras, do equilíbrio, da complexidade que se faz simples quando se vive com princípios éticos reais...
A misantropia não deixou somente tribulações, não foi o algoz da minha razão, a mazela do tempo ou a chaga de minh'alma... foi a motriz da essência mais pura, o âmago insolente que enalteceu a verdadeira personalidade, o antagônico presságio... o prelúdio...
Somos moldados pelas adversidades.
A razão é parcimoniosa...

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sexta-feira, 16 de agosto de 2019

"CARAS COMO EU"


"CARAS COMO EU"


Alguém postou um vídeo em um grupo, em um certo aplicativo... uma reportagem que outros amigos, em outros grupos, já haviam postado... e que eu lembrei que já havia assistido há quase uma década...

Este não havia dizeres, só o vídeo... Mas eu havia recebido, dias antes, o mesmo, com dizeres direcionados, com positividade, ao governo atual... aquelas coisas chulas com bordõezinhos vergonhosos, do tipo: "golaço do presidente", "mito" ou outra jactância típica de uma isquemia cerebral momentânea (assim espero)...

Neste caso, só citei: "Esta reportagem foi por volta de 2010"... só isto, simples, informativo, nada mais...  mas foi o bastante para inflamar o estopim reativo e desencadear a balbúrdia mental da irracionalidade egoica, muito comum por trás do escudo virtual a que o brasileiro, mais que qualquer outro povo, se apoderou e "tomou gosto" nos últimos anos...

"Não interessa..." veio feito pedras jogadas por um moleque mal-criado, em um cachorro de rua... 

Ri sozinho... "coitado, deve ter algum problema", pensei... Não dei muita bola, estou acostumado com gente de pouca circunspecção... mas tentei explicar, em poucas palavras, o que havia por trás daquele tema, de onde advinha e que alguns estavam veiculando o mesmo vídeo como se fosse atual; enfim... Claro que meu lado sarcástico não ficou calado, nem deveria... mas não dirigi qualquer sarcasmo diretamente a ele, senão a nosso presidente... e foi tipo "chutar o meio das pernas de um e acertar em cheio a boca de outro"... o que posso fazer? ... há! há! há!...

"Caras que nem você devia ir embora do Brasil", foi o que veio de imediato... obviamente, mandei-o à merda... imbecilidade tem limite!

Mas fico curioso... "caras que nem você"? Como assim? O que são caras como eu? Gente com discernimento entre certo e errado, que combate fake news e não aceita mentiras a benefício do que ou quem quer que seja? Gente com o mínimo de inteligência pra não ficar batendo "palminhas" ou ficar fazendo sinal de "arminha" com as mãos para toda e qualquer estupidez, a cada incivilidade, desferida feito estrume lançado pelo reto de uma vaca, galreado pelo presidente? Rapaz... começo a ficar lisonjeado... Caras como eu... Obrigado!

Essa burrice de ficar tagarelando coisas como: "torcendo contra", "protegendo o PT", "esquerdista"... Cara, pense por si! Livre-se desses chavões... isso é triste...

Caras como eu pouco se importam se o presidente é um "molusco", uma "anta" ou uma "besta"...

"Caras como eu" não estão "torcendo contra", estão exigindo atitudes e posturas condizentes a um chefe de estado, não a um moleque que passa o dia "defecando" suas irracionalidades em redes sociais, disseminando falsidades e balbuciando hipocrisias, e o pior: incitando seus sectários contra aqueles que pensam diferente ou não aceitam cegamente seus delírios.

Caras como eu não protegem partido político ou seus personagens... o fato de desmentir fake news ou postagens tendenciosas não faz de ninguém um partidário ou sequer indica lateralidade política, que aliás, caras como eu pensam ser de extrema estupidez lutar pela obstinação doentia de outros.

Caras como eu concordam com Orwell e sabem que a verdadeira mudança ou revolução só será efetiva quando nascer "de baixo", pela vontade real e pelos ideais do povo, e não imposta ou tendenciosamente dirigida de "cima", por um pequeno grupo, sectários psicóticos.

Caras como eu querem um mundo melhor...

Caras como eu esperam o mínimo de ética, sensatez e decoro daqueles que nos representam...

Caras como eu sabem que há uma diferença muito grande, distorcida por essa animosidade político-econômica, entre realidade socioeconômica e ganância mercadológica.

Caras como eu leem a Bíblia e, sem medo ou dogmas, leem LaVey... compreendemos a ambiguidade...

Caras como eu foram ler a Constituição Federal para compreender - em seu art. 194 - a "diferença" entre Seguridade e Previdência Social... e foram capazes de assumir e redimirem-se de um erro de interpretação...

Caras como eu não concordam que os fins justificam os meios... concordam, sim, com os escritos de Maquiavel no sentido de que o "vulgo" - o povo - "sempre se deixa levar pelas aparências e pelos resultados".

Caras como eu acham ridículo e inaceitável, pelo motivo que for, um representante máximo de um país ir a público e bradar extasiadamente: "Eu ganhei porra!" (assim mesmo, sem vírgula)... sei lá, na hora até pensei: "Nossa, alguém deu uma ejaculada na cara do presidente... E ele gostou!" ... deve ter sido o Frota... há! há! há! ... e não deve ter ligado no dia seguinte, nenhuma mensagem, nem um emoji com coraçãozinhos, nada!... deve ser por isso que está sendo afastado do partido... há! há! há!...

Ah, meu caro...

Caras como eu...

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sexta-feira, 12 de julho de 2019

A GENIALIDADE


A GENIALIDADE 


* Dedicado a Wander Wildner 


Estive pensando... refletindo sobre a genialidade...

Sabe, não sei bem ao certo como, mas antes de nascermos temos dois grandes caminhos a escolher... após estes, podem haver outros pequenos caminhos, moldagens da personificação humana...

Antes de concluir, vamos voltar ao ponto de partida desse grande - digamos - dilema: estive pensando em todas as pessoas que considero geniais, aquelas grandes personalidades que tanto admiro - às vivas, peço humildes desculpas; às que se "foram", reverencio - ... pois bem... os dois grandes caminhos são de escolha única e pessoal... parece que, infelizmente, você não pode tomar um caminho e, lá pelas tantas, decidir voltar para seguir pelo outro. É uma linha reta, sem volta.

Acredito que, se a nós, naquele instante, houver consciência, é um momento de grande hesitação...

Bonito ou Gênio?

Ou você virá ao mundo agradando a todos com sua fútil beleza física, sua conversinha suave e agradável - vazia, no entanto -, concordando com tudo e com todos, "dançando conforme a música", susceptível instrumental aos ardilosos... ou virá como farpa na mente dos estultos.

Aos padrões instituídos, firmados aos interesses da grande e preponderante máquina dogmática, ou você é "bonitinho"... ou você é "genial"(!) ...

E quando você é genial, beleza é transcendente, metafísica... epistêmica.

Por fim, o genial é belo por sua própria essência; a dicotomia absoluta, aversa à beleza fútil.

O genial é belo...

E este é o genial Wander Wildner... 

A genialidade sempre é desprezada...

deixada de lado...

incomoda... 

ameaça...


(Texto escrito após assistir a um vídeo de Wildner, sobre a felicidade)


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sexta-feira, 26 de abril de 2019

A CASA ABANDONADA


A CASA ABANDONADA


No inverno de 1989, passei em frente a uma casa abandonada... havia folhas secas por todo o chão e o mato começava a tomar conta do jardim... folhetos e envelopes espremidos escapavam pela fresta da caixinha de correio. Pelo reflexo dos vidros empoeirados de uma das janelas, era possível ver o movimento ensandecido, o ir e vir de vidas estressadas, os cães abandonados, os carros e as motos, algumas bicicletas que por vezes ziguezagueavam por entre os carros na rua e as pessoas nas calçada - e que aborrecia os de mais idade - e um ou outro caminhão que por vezes cruzava com sua fumaça sufocante e seu barulho tão grave que fazia o reflexo oscilar...

Naquele instante fustigante, pude ver uma cidade alucinada, de alma suja como a poeira no reflexo que a mostrava, e um mundo real vazio, frio e silencioso...

A vida social ensandecida é falsidade, uma mentira...

A agitação cotidiana é devaneio...

As preocupações e apegos materiais são ilusões vazias.


O mundo real faz de você algo invisível...


A casa abandonada é um coração vazio... a ausência de amigos.

Não ter amigos é estar defronte a uma vidraça empoeirada e ver a correria de uma existência da qual você, de verdade, não faz parte.

Não ter amigos é ter a vida coberta de folhas secas, é passar os dias sendo consumido pelo mato e ter a mente ocupada por folhetos e envelopes desgastados pela ação do tempo...

Não ter amigos é uma quimera.

Esqueça os vidros empoeirados e seus reflexos sujos e ilusivos...

A agitação cotidiana, de velocidade assustadora, atropela o mundo real...

Estar sozinho é estar parado na calçada, com a cabeça cheia de mensagens vazias... folhetos cheios de acontecimentos que há tempo se foram, e envelopes com mensagens que não nos interessam mais...

Seus olhos não veem o mundo real, mas aquilo que você chama de alma - e eu, de consciente inconsciente - confunde-se com as atrocidades que se mostram pela irrealidade que insistimos em tornar parte de nossas vidas.

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Naquele momento, pude perceber toda a poeira que nos cobre, o mato que se alastra, nossas folhas secas e os folhetos e envelopes amarelados e tão marcados pelo tempo, agora tão vazios, mas que insistem em martelar em nossa mente...

O tempo é poeira que nos cobre...

O passado é o castigo...

O inferno...

é só uma casa abandonada...

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