AS PEQUENAS ATITUDES
(Texto escrito para a "Coluna Pet" -
Jornal Folha do Sudoeste, Fco Beltrão/PR,
em 24/10/2008)
“Foi difícil aprender que
a gente tem que respeitar a realidade; e mais difícil foi aprender
que ela não tem nenhum motivo para nos respeitar”
(Eduardo Galeano).
Não
canso de repetir que a falta de atitude em relação a coisas tão
pequenas nos fará, algum dia, pecar por coisas maiores.
Dirigidos pelos insistentes discursos jornalísticos – ora tendenciosos, ora
omissos da verdade – ou por mera “preguiça do pensar”, guiados
pela opinião de alguns dos milhares de “especialistas”
no assunto, reclamamos a todo instante do descaso e corrupção
política, mas em contrapartida, nada fazemos para as coisas serem
diferentes.
Que exemplo damos a nossos filhos, omitindo ou mantendo-nos omissos às coisas cotidianas, varrendo – “quando
varremos!” – pequenas sujeiras “para debaixo do tapete”?
Vamos ser sinceros: será que não participaríamos das mesmas
barbáries, se estivéssemos na mesma posição que nossos “tão
respeitados” políticos? Se somos capazes de subornar um guarda,
furar uma fila no banco ou, simplesmente, deixar de coletar, das
calçadas, as fezes de nossos cães… duvido se não seríamos
apenas mais uns, no meio da alcateia política.
Na verdade, falamos demais...
Às vezes, manter-se calado é uma grande virtude.
“O
silêncio é o ouro dos pobres”, enfatizou
Chaplin, com sua simples e modesta genialidade.
Todos adoram opinar… todo mundo opina, critica, acusa e, em pouco
tempo... esquece…
As pessoas, em geral, apegam-se às notícias menos importantes à
sociedade.
Não tenho muita opinião sobre essas pequenas fatalidades que vemos nos jornais... aliás, respeito a dor dos
familiares, mas creio que esse martírio de informações saturadas beira à “banalidade das telenovelas jornalísticas”, e eu, com
minha vida simples, nada tenho a ver com isso. Não quero saber
de quem foi a culpa, quem jogou a menina da janela, se a bomba
estourou antes ou depois de algum disparo de arma de fogo… É
trágico? Claro que sim! Mas ninguém mais, além da justiça e
daquelas poucas pessoas envolvidas, tem a ver com aquilo tudo.
Ninguém sabe o que se passa com sua própria vida, com seus familiares, em
sua casa… mas o interesse pela vida alheia, a vontade utópica de
estar envolvido, de alguma forma, com fatos que fogem à sua
realidade, de quebrar a barreira da individualidade, da
particularidade dos problemas de um terceiro, é um alarde popular.
Mas sei que isso é um fenômeno universal humano. Não é
exclusividade de nós, brasileiros…
O ser humano é mesmo assim…
Agir de forma segura e prudente, antecipando-se a uma possível falha que possa
causar acidente, não faz parte do cotidiano do povo brasileiro. Não
temos vulcões, terremotos, maremotos, furacões ou qualquer outro
fenômeno de maior gravidade, senão, seria nosso fim.
Sei que – infelizmente – somos assim: só tomamos atitude
depois do pior ter acontecido. É quase um atestado de burrice, cultural
do povo brasileiro. “A cultura da estupidez”.
Só passamos a usar o cinto de segurança, quando começamos a receber
multas…
Prestem atenção no mal cheiro que exalam os bueiros no centro da
cidade. O motivo são os dejetos lançados, de forma
irregular, em tubulações de água pluvial.
Não interessa o
bem-estar, a saúde, o meio ambiente ou sequer o bom senso. Somos,
assim: irresponsáveis, corruptos, inescrupulosos e não estamos nem
aí para os problemas que afetam toda uma sociedade. Contanto que, de
alguma forma, individualmente, favoreça-nos... tudo certo!
Aquela velha mania, de esperar que os outros façam primeiro, ou de pensar:
“ah, todo mundo faz”, “é só uma coisinha de nada”, “do
que adianta eu me preocupar, ninguém respeita mesmo!”, é o
problema de tudo que sofremos. É um problema de centenas de anos,
herança de nossa colonização. Quem povoou as terras brasileiras
veio atrás de riquezas, bem no estilo “custe-o-que-custar”, o
mesmo estilo que vivemos até os dias de hoje. Não tinham cultura,
educação ou o hábito da leitura, e não tinham outra opção de
escolha.
O mesmo se faz, atualmente, com as raças dos cães: usa-se, como
matrizes, os cães que atendam as necessidades de mercado: os mais
dóceis, os que latem menos, os menores, os ainda menores… ou seja
lá a mania que esteja na moda, “na onda” do momento, não
importa a saúde e o bem-estar do animal.
Fala-se em meio ambiente, mas nada se faz, efetivamente, a favor.
Compra-se um papagaio ou uma tartaruga, sem registro... de forma ilegal, um animal oriundo do
tráfico, porque custa mais barato; não importa se foi retirado de
seu ambiente e transportado em fundo falso de mala ou dentro de tubos
de PVC, enrolados em gaze, e com alto índice de mortalidade... pouco importa!
Assim somos nós: herança de um povo sem cultura, oportunista e sem
qualquer escrúpulo.
E
o que fazemos para mudar essa situação?
Absolutamente
nada!
Nossos filhos estão aí, assistindo nossas atitudes, aprendendo nossos
erros e manias (e não, infelizmente, “aprendendo com”).
Lamentavelmente,
estamos seguindo o mesmo caminho que nossos colonizadores... e
estaremos nele até que as pequenas atitudes façam a diferença.
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