terça-feira, 6 de agosto de 2019

AS PEQUENAS ATITUDES



AS PEQUENAS ATITUDES




(Texto escrito para a "Coluna Pet" -
 Jornal Folha do Sudoeste, Fco Beltrão/PR, 
em 24/10/2008)



“Foi difícil aprender que a gente tem que respeitar a realidade; e mais difícil foi aprender que ela não tem nenhum motivo para nos respeitar” (Eduardo Galeano).


Não canso de repetir que a falta de atitude em relação a coisas tão pequenas nos fará, algum dia, pecar por coisas maiores.

Dirigidos pelos insistentes discursos jornalísticos – ora tendenciosos, ora omissos da verdade – ou por mera “preguiça do pensar”, guiados pela opinião de alguns dos milhares de “especialistas” no assunto, reclamamos a todo instante do descaso e corrupção política, mas em contrapartida, nada fazemos para as coisas serem diferentes.

Que exemplo damos a nossos filhos, omitindo ou mantendo-nos omissos às coisas cotidianas, varrendo – “quando varremos!” – pequenas sujeiras “para debaixo do tapete”?

Vamos ser sinceros: será que não participaríamos das mesmas barbáries, se estivéssemos na mesma posição que nossos “tão respeitados” políticos? Se somos capazes de subornar um guarda, furar uma fila no banco ou, simplesmente, deixar de coletar, das calçadas, as fezes de nossos cães… duvido se não seríamos apenas mais uns, no meio da alcateia política.

Na verdade, falamos demais...

Às vezes, manter-se calado é uma grande virtude.

O silêncio é o ouro dos pobres”, enfatizou Chaplin, com sua simples e modesta genialidade.

Todos adoram opinar… todo mundo opina, critica, acusa e, em pouco tempo... esquece…

As pessoas, em geral, apegam-se às notícias menos importantes à sociedade.

Não tenho muita opinião sobre essas pequenas fatalidades que vemos nos jornais... aliás, respeito a dor dos familiares, mas creio que esse martírio de informações saturadas beira à “banalidade das telenovelas jornalísticas”, e eu, com minha vida simples, nada tenho a ver com isso. Não quero saber de quem foi a culpa, quem jogou a menina da janela, se a bomba estourou antes ou depois de algum disparo de arma de fogo… É trágico? Claro que sim! Mas ninguém mais, além da justiça e daquelas poucas pessoas envolvidas, tem a ver com aquilo tudo.

Ninguém sabe o que se passa com sua própria vida, com seus familiares, em sua casa… mas o interesse pela vida alheia, a vontade utópica de estar envolvido, de alguma forma, com fatos que fogem à sua realidade, de quebrar a barreira da individualidade, da particularidade dos problemas de um terceiro, é um alarde popular.

Mas sei que isso é um fenômeno universal humano. Não é exclusividade de nós, brasileiros…

O ser humano é mesmo assim…

Agir de forma segura e prudente, antecipando-se a uma possível falha que possa causar acidente, não faz parte do cotidiano do povo brasileiro. Não temos vulcões, terremotos, maremotos, furacões ou qualquer outro fenômeno de maior gravidade, senão, seria nosso fim.

Sei que – infelizmente – somos assim: só tomamos atitude depois do pior ter acontecido. É quase um atestado de burrice, cultural do povo brasileiro. “A cultura da estupidez”.

Só passamos a usar o cinto de segurança, quando começamos a receber multas…

Prestem atenção no mal cheiro que exalam os bueiros no centro da cidade. O motivo são os dejetos lançados, de forma irregular, em tubulações de água pluvial.

Não interessa o bem-estar, a saúde, o meio ambiente ou sequer o bom senso. Somos, assim: irresponsáveis, corruptos, inescrupulosos e não estamos nem aí para os problemas que afetam toda uma sociedade. Contanto que, de alguma forma, individualmente, favoreça-nos... tudo certo!

Aquela velha mania, de esperar que os outros façam primeiro, ou de pensar: “ah, todo mundo faz”, “é só uma coisinha de nada”, “do que adianta eu me preocupar, ninguém respeita mesmo!”, é o problema de tudo que sofremos. É um problema de centenas de anos, herança de nossa colonização. Quem povoou as terras brasileiras veio atrás de riquezas, bem no estilo “custe-o-que-custar”, o mesmo estilo que vivemos até os dias de hoje. Não tinham cultura, educação ou o hábito da leitura, e não tinham outra opção de escolha.

O mesmo se faz, atualmente, com as raças dos cães: usa-se, como matrizes, os cães que atendam as necessidades de mercado: os mais dóceis, os que latem menos, os menores, os ainda menores… ou seja lá a mania que esteja na moda, “na onda” do momento, não importa a saúde e o bem-estar do animal.

Fala-se em meio ambiente, mas nada se faz, efetivamente, a favor.

Compra-se um papagaio ou uma tartaruga, sem registro... de forma ilegal, um animal oriundo do tráfico, porque custa mais barato; não importa se foi retirado de seu ambiente e transportado em fundo falso de mala ou dentro de tubos de PVC, enrolados em gaze, e com alto índice de mortalidade... pouco importa!

Assim somos nós: herança de um povo sem cultura, oportunista e sem qualquer escrúpulo.

E o que fazemos para mudar essa situação?
Absolutamente nada!

Nossos filhos estão aí, assistindo nossas atitudes, aprendendo nossos erros e manias (e não, infelizmente, “aprendendo com”).

Lamentavelmente, estamos seguindo o mesmo caminho que nossos colonizadores... e estaremos nele até que as pequenas atitudes façam a diferença.
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