A
LONGEVIDADE, A QUALIDADE DE VIDA E A FUTILIDADE
(Texto publicado no Jornal Folha do Sudoeste, Coluna Pet, na edição de 18 de julho de 2020)
Importantes
companhias para muitos, principalmente nestes últimos meses, onde a
pandemia jogou-nos em reclusão em nossos próprios lares, os animais
de estimação têm contribuído muito para a manutenção do
bem-estar e estado emocional – principalmente – das crianças e
idosos.
Os
benefícios da relação com animais vão além dos benefícios
psíquicos. Há mais de duas décadas, pesquisas revelam melhoras na
frequência cardíaca e níveis de pressão arterial de pessoas que
convivem com animais de estimação.
Os
cuidados com os animais vêm aumentando rapidamente, mas na verdade,
deixa muito a desejar em relação à saúde e qualidade de vida,
relacionadas à longevidade.
Essa
onda de “amor pelos animais” – obviamente, como tudo neste
mundo, maquinado por algum grupo com interesses escusos – mudou a
atitude de muitas pessoas, antes aversas, para com a vida e o modo
como estes animais participam dentro da estrutura familiar. Aquela
velha imagem de um animal preso por correntes, no fundo do terreno,
fora substituída – ao extremo – por animais dominando o interior
dos lares.
Sinto
muito... mas ambas as imagens (as correntes e o abandono e o exagero
de liberdade) são visões e atitudes extremistas... e isto – como
em tudo que é levado ao extremo – não é nada bom... e pra
ninguém... além, é claro, para aqueles que antes financiaram esta
“causa”, obviamente, visando lucros. Não estou dizendo que o
fato de você ter animais dentro de casa é ruim ou errado... somente
não precisa deixar-se levar, inconscientemente, pela mercadização
ou por imposições escusamente inseridas no contexto de vida
moderna, a benefício meramente econômico de um grupo.
Inserir
a rotina de vida dos seres humanos e, assim, incorporar maus hábitos
ao cotidiano, privando o instinto e hábitos naturais saudáveis dos
animais, é um erro que reflete diretamente na expectativa de vida
destes seres, além de causar alterações de comportamento, muitas
vezes desastrosas.
O
artigo “The Compression of Morbidity” (A Compressão da
Morbidade), do Dr James F Fries, médico, professor na “Stanford
University”, publicado no periódico “The Milbank Quarterly”,
Nova York, EUA, em 1983, traz um tratado sobre as questões que
envolvem a idade e a define como um complexo e progressivo processo
fisiológico, que acarreta em uma limitação gradual na capacidade
de um indivíduo em manter a homeostasia ou equilíbrio metabólico,
acarretando em uma maior vulnerabilidade a doenças, a outras
intempéries da vida ou de reações resultantes de sua própria
imunidade ou metabolismo, colocando-o cada vez mais próximo da
morte.
O
tempo médio de vida de um ser está relacionado a fatores
genotípicos (geneticamente herdados) e fenotípicos (influenciados
pelo ambiente). Esta relação entre expressão genética e
influência fenotípica, que determina, de certa forma, a longevidade
de um indivíduo, pode ser estudada com a finalidade de melhorar as
condições biológicas de sobrevivência, levando-o a uma maior
qualidade de vida e, desta forma, a uma maior longevidade.
Infelizmente,
todo ser vivo passa por fases de desenvolvimento, alcançando uma
fase de estabilização ou maturidade, o que chamamos, para os
animais, de fase adulta, para depois declinar, em um processo
progressivo de envelhecimento, até sua morte. Não há como mudar
isto, mas há como usar de medidas preventivas para melhorar a
qualidade de vida.
Em
cães, sabemos que a longevidade é determinada por fatores como
porte e raça, mas há uma complexidade determinada por vários
outros fatores, incluindo a busca desenfreada para atender à demanda
de futilidades mediadas por modismo, levando a animais cada vez mais
distantes de suas características naturais, como animais cada vez
menores ou mais “submissos” à vontade humana. A perda de seus
instintos ou a “seleção inversa” de características corporais
influenciam diretamente na saúde, na qualidade de vida e na
longevidade destes animais.
Normalmente,
cães de pequeno porte têm uma longevidade maior que os de grande
porte.
Um
trabalho de pesquisa realizado na Grande São Paulo (região que
reúne 39 municípios), mostrou que a expectativa média de vida dos
cães (consideradas as morbidades), naquela área, chega a ser de
três a quatro vezes menor que a média, quando comparado com países
de “Primeiro Mundo”, como Estados Unidos, Inglaterra, Dinamarca e
Japão (“Expectativa de Vida e Causas de Morte em Cães na Área
Metropolitana de São Paulo” - Henri D. L. Bentubo et al, Ciência
Rural, Universidade Federal de Santa Maria, 2007). Não há muitos
trabalhos que tratam deste assunto, no Brasil, mas esta média, com
certeza, reflete a realidade do país. Esta pesquisa mostra uma média
de vida de 36 meses, contrapondo a 120 meses na Dinamarca; 117, nos
Estados unidos; 132, na Inglaterra e 99 meses, no Japão. Isto
reflete “a necessidade de se investigar outras regiões e se pensar
em medidas gerais para o aumento da sobrevida dos animais de
estimação em nosso país”.
Assim
como nos humanos, diversas são as causas de mortalidade em cães e
outros animais de estimação. Mas se levarmos em conta os dados
apresentados nesta pesquisa em relação ao uso da nutracêutica em
países desenvolvidos, comparado a nosso país, pode levar-nos ao
entendimento – ao menos parcial – do porquê desta grande
diferença. Nestes países, o uso de produtos nutracêuticos
(suplementos alimentares, com compostos bioativos, capazes de
melhorar a qualidade de vida de um indivíduo), em humanos e animais,
é muito maior que no Brasil. No Japão, por exemplo, a importância
é tão notável, que levou o MHLW – Ministry of Health, Labour and
Welfare (o Ministério da Saúde japonês) a criar uma categoria
específica para os nutracêuticos, chamada de FOSHU, que, em inglês,
quer dizer: “Food For Specified Health Use” ou, em português:
Alimentos Para Uso Medicinal Específico. O consumo de produtos
nutracêuticos nestes países chega a ser 80 vezes maior que em nosso
país. A importância destas substâncias como preventivo de doenças
ou de reações ou lesões decorrentes da idade é altamente
relevante. Já no Brasil, infelizmente, mesmo em se tratando de
produtos para animais, a importância dessas substâncias limita-se
ao mercado cosmético, o que coloca o país como 3º maior mercado do
mundo, nesta categoria.
Afinal... o que esperar de um país onde a futilidade
sobressai à saúde?
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