quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

Venha, Ano Novo!

Venha, Ano Novo!


As cicatrizes deixadas por 2020 são inalteráveis máculas gravadas na história...

Tempos difíceis, é o que vivemos...

Fomos jogados em algum capítulo da Comédia de Dante; atravessamos o Aqueronte a nado e distribuímos tapas nas caras de Cérbero... e ainda chamaram-no de vira-lata...

Bastava-nos uma doença... mas a ignorância, as mentiras, a estupidez politiqueira, a verdadeira sandice de uma paixão doentia e facciosa, um fanatismo que ultrapassara as fronteiras da idolatria banal e migrara da política à farmacêutica com a mesma intensidade e insanidade, o “anetismo” sórdido, jogou-nos contra as muralhas de fogo de Dite...

O ano foi um pandemônio inimaginável e, com certeza, suas consequências farão-nos andar, por muito tempo, por sobre poças de sangue, entre prantos e o ranger de dentes dos desesperados...

Em 31 de dezembro, a data finda, mas o “ano” mal começou.

Não consigo – simplesmente – desejar, da boca pra fora, um Feliz Ano Novo... sei que é ilusão. Mas, confesso, a hesitação invade meu ser. A Felicidade pode ser ambígua, mesmo que piegas, mesmo que inocente...

A candura da felicidade, do amor verdadeiro, da esperança por dias melhores, mesmo que pensemos ser banal ou a futilidade dos sentimentos humanos... Ah, com certeza, é melhor que a desesperança, que o desengano ou o apego aos infortúnios que o invisível, aliado à – visivelmente – despreparada governança, submeteu-nos neste ano que se finda...

A Virada de Ano é somente um marco neste tempo imaginário que seguimos... 

A esperança talvez não traga a cura para mal algum, mas leva-nos à Paz necessária para enfrentarmos os demônios que nos cercam...

Desejo Paz, para que a harmonia interior traga-nos discernimento para que possamos decidir e agir com acuidade frente a todo mal, mesmo os que se fazem passar por benevolentes.

Acreditem... Não precisamos de nada e de ninguém acima de nós... Precisamos que estejam ao nosso lado...

Que venha 2021...





sábado, 12 de dezembro de 2020

A FONTE DAS GAROTAS CERTAS


A FONTE DAS GAROTAS CERTAS


A Arte é alheia ao tempo... a Arte não foi, ela é... 

Alguém, em uma conversa, lembrou da obra "A Fonte", de Duchamp... Logo, veio-me à mente a banda paulistana dos anos 80, cuja capa de seu disco faz referência à obra. 

"Akira S & As Garotas Que Erraram"... 

Estes usaram do mesmo conceito "subversivo", na concepção de uma obra inovadora na música brasileira. 

Com letras inusitadas e de certa complexidade, um tanto desconfortáveis - por tirar-nos do elo comum -, usa do baixo elétrico como base de concepção, cuja força, calcada em timbres e texturas precursoras de um conceito às avessas, um tanto "antiguitarrístico", propele sons em "perfeita" contramão, atropelados por um vocal visceralmente desesperado, desconexo e estridente, grunhindo belamente - como se isso fosse possível - coisas do tipo: "o meu amor serrano desceu pelo cano/o meu amor praieiro dançou, salvo engano"... ou: "você dirige o automóvel, eu lhe dirijo argumentos"...

Letras fortes, despretensiosas e poeticamente lindas. 

O disco é um marco quase "desconhecido" na música brasileira. 

A capa, de incomum criatividade, com texturas e materiais distintos, entre plástico e papel, faz desta própria uma perfeita poesia textural, como se as digitais fossem olhos, como se um cego usasse dos dedos, do tato, e lesse um lindo poema em braile.

Akira S & As Garotas Que Erraram não é um prato de arroz com feijão e ovo frito, que você mastiga e engole rapidamente...

Apreciar a arte exige um paladar apurado... 

Digerir a arte - indigesta, para muitos - exige tempo...

Akira S & As Garotas Que Erraram é arte, na sua mais pura essência...

Mas... "Você diz a verdade quando mente"...

E "Engano/ seguido de enganos/ seguidos de planos/ que referendam os enganos/ Lato sensu"...

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quarta-feira, 9 de dezembro de 2020

O TEMPO


O TEMPO


O tempo é o feijão no prato dos desafortunados,
A cicatriz que acusa nossos erros,
O medo de caminhar pelo vazio.

O tempo, há tempos...
É a esperança que nos encoraja
e a lamúria que afugenta... 

Temos tempo pra ter tempo... 
Mas - na vida - não temos tempo pra ter medo...

O tempo é um carro velho que atropela,
O amor rasgado em desespero,
O calor que cede e morre de frio.

O tempo, há tempos... 
É o lamento que nos desalenta
e o júbilo que ao vento aplaude...

Temos tempo pra perder o tempo...
Mas - na vida - procuramos tempo pra exprimir coragem...

O tempo é água suja na cabeça dos bem-aventurados,
Ferida aberta que escancara a alma,
A coragem de correr pelo absoluto.

O tempo é mácula,
O escárnio que constrange.

O tempo fere...
e cura...
há tempos...
...






quinta-feira, 3 de dezembro de 2020

O FUTURO

O FUTURO

(08/10/2019)


O futuro é uma navalha
apontada para sua cabeça
o escárnio do tempo 
que lhe condena em tempo oportuno
a candura da verdade que estapeia sua face

O futuro não perdoa por seus erros
ele achincalha por seus lapsos
O futuro nunca sofre de amnésia
a catalepsia do passado, o futuro condena
seu flagelo, um dia chega

Arrastam-se as correntes das suas culpas
o remorso é o inferno consciente
A cada passo de encontro ao seu destino
não há linha, sequer de pensamento

O futuro é fogo, centelha que facilmente incendeia
A espera oportuna transcendente,
que apazigua ou contesta
súbita panaceia, pragmático insurrecto

O futuro se disfarça de “nunca chega”
e a cada dia te castiga, te humilha, te chateia

O futuro é amor ou ódio condigno
resignado ao passado, porém resoluto
um passo no vazio, a cada passo

O Futuro é tão somente...
uma Resposta eloquente.

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