A CARNE DE FRANGO TEM HORMÔNIOS?
É muito comum ouvirmos que a carne de frango contém hormônios; vindo até mesmo de alguns avicultores ou produtores rurais que “conhecem” de perto a produção de aves. Conhecem, entre aspas, justamente porque viram, veem, vivenciam e, realmente, não sabem é de nada.
Ouvir isto de uma pessoa que não conhece a produção avícola, é até compreensível... já que escuta a todo instante, obviamente, como toda mentira repetida várias vezes passa-se por verdade, é natural que acredite nisto. Agora, ouvir isto de profissional da área – seja avicultor ou outro produtor rural, razoavelmente “bem informado”, ou até mesmo de técnicos agrícolas, agrônomos ou veterinários – é lamentável.
Realmente, há muitas dúvidas relacionadas ao rápido desenvolvimento das aves, muitas delas causadas por boatos ou por falta de compreensão dos fatores genéticos e nutricionais que levam ao atual desenvolvimento corpóreo destes animais, em produções de larga escala.
Normalmente, as dúvidas recaem sobre termos como hormônio, antibiótico, transgênico, agrotóxico ou algum outro tema relacionado com a “moda do momento”, que desencadeie uma enxurrada de informações imprecisas, distorcidas ou totalmente mentirosas.
Estas questões têm-se visto inflamadas pelas atuais intrigas políticas, ocorridas no Brasil e no mundo, o que levou alguns grupos a recriarem esses falsos conceitos, com a finalidade de inibir o consumo destes alimentos.
Realmente. o setor produtivo agropecuário é uma linha tênue que pode, muito facilmente, infringir diversas questões ambientais. Os diversos processos relacionados à produção de alimentos é de uma narrativa muito complexa e, obviamente, também batem de frente com questões de domínio econômico e político.
O uso dos recursos naturais para a produção de alimentos, desde muito, tem sido uma fonte de divergências e debates, muitas vezes, infrutíferos.
O crescimento exponencial da população, durante toda a história da humanidade, tem gerado problemas em questões que envolvem o aproveitamento das terras. Até mesmo na Bíblia podemos encontrar passagens que retratam estes problemas. Em Gênesis, na história de Ló e Abraão, pode-se ler que “a terra, todavia, tornou-se insuficiente para abrigar os dois morando na mesma região, isso porque possuíam tantos bens, servos e animais que a terra não conseguia sustentar a todos” (Gênesis 13:6). Esta passagem deixa claro que, naquele momento, já era escasso os recursos naturais frente à demanda e ao exponencial crescimento populacional das comunidades, e que era urgente a necessidade de inovações que proporcionassem uma maior produtividade por área.
Frente a esta necessidade, buscou-se – através de sucessivas seleções genéticas – linhagens mais produtivas, que tivessem conformação corpórea ou características conforme as necessidades de produção, a fim de atender a demanda de mercado. O desenvolvimento nutricional e de técnicas de manejo e produção vieram a acelerar o crescimento e garantir uma maior produtividade, em um menor tempo possível.
Em relação à alimentação, ao arraçoamento, temos o ponto crucial, onde a propagação de informações equivocadas ou errôneas confunde a muitos sobre as questões relacionadas ao uso de antibióticos e hormônios.
Alguns antibióticos podem, sim, ser administrados como promotor de crescimento ou aditivo melhorador do desempenho, ou mesmo para tratamentos, quando necessário. Obviamente, o uso racional deve ser priorizado. Porém, no Brasil, o uso dos antimicrobianos Tilosina, Lincomicina e Tiamulina, como melhorador de desempenho (os últimos ainda permitidos no país), foi proibido pelo MAPA - Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento - atendendo as recomendações da OMS - Organização Mundial da Saúde -, em um processo que vem desde 1998, com o objetivo de reduzir o uso de antimicrobianos na produção pecuária; sendo assim, desde o ano passado (2020), não é mais permitido esta técnica no país.
Em relação aos hormônios, há de ficar bem claro que não existem anabolizantes produzidos para esta finalidade. Não há como aplicar individualmente (injetável), em uma produção de larga escala. Isto tornaria o processo totalmente inviável, economicamente. Mesmo os antibióticos ou qualquer outro medicamento ou suplemento, quando necessários, são administrados através da água ou alimentação. Os hormônios seriam destruídos no trato digestivo e não seriam absorvidos; ou seja, não surtiriam o efeito desejado. Outro detalhe é o tempo que levaria para que surtisse este efeito. Qualquer hormônio anabolizante levaria até dois meses para que fizesse qualquer efeito, que viabilizasse seu uso. E todos sabemos que os frangos são abatidos em um espaço de tempo menor que este.
Enfim, o rápido crescimento e o grande desenvolvimento de massa muscular, nas aves, ocorre devido modificações ou seleções genéticas, técnicas de manejo e nutrição de alta qualidade.
O uso de substâncias em animais, no Brasil, é regulamentado pelo MAPA, conforme os decretos vigentes no país, seguindo as determinações da OMS e da FAO (Organização para Alimentação e Agricultura) e as normas do Codex Alimentarius (código criado em 1963 pela OMS/FAO que estabelece regras relacionadas à segurança alimentar, com o objetivo de assegurar boas práticas na indústria de alimentos e proteger a saúde dos consumidores).
Sei que a pergunta persiste: "Tem hormônios e antibióticos na carne de frango?"
Não! Não tem hormônios... e, antibióticos, legalmente não há, ou ao menos, não deveria...
"Ah, mas eu não acho que a carne de frango seja saudável". Meu amigo, neste mundo que vivemos - posso te garantir - nem mesmo o ar que respiramos é tão saudável... e nem mesmo a água mineral, ou os produtos que chamam de "orgânico" e que você paga tão caro. E não estou dizendo que sou contra os "produtos orgânicos"... só não gosto da terminologia, mas já é outra história. Os orgânicos são, sim, melhores que os oriundos de produção tradicional, mas não temos ar e não temos água (ou, raramente teremos) sem que haja ao menos um contaminante. Não usar agrotóxicos (ou fitossanitários, se é o termo que prefere; que seja, não muda nada), não garante que não os tenha. Obviamente, é o caminho, porém, tarde demais, para nossa geração.
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A maioria penso que não procura saber mais e simplesmente usam um jargão disso ou daquilo. Muito pertinente o esclarecimento. Um exemplo simples, quando guardamos sementes para plantar na próxima temporada, escolhemos as mais bonitas ou as mais feias?
ResponderExcluirE pensar que somos, também, frutos de uma seleção, não é mesmo? Uma seleção natural, que, embora perfeita biologicamente, penso que fora falha em distribuir discernimento...
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