CONTAMINAÇÃO ALIMENTAR
Parte 1: A Contaminação Biológica
Em meio à pandemia, a novidade de uma doença que ameaça a raça humana camufla a existência de riscos potenciais, que, igualmente, causam grandes danos à saúde pública do mundo todo.
Estimativas dão-nos conta que 600 milhões de pessoas adoecem e 420 mil pessoas morrem por causa de infecções alimentares, anualmente.
Os alimentos contaminados criam um ciclo de doenças (agudas e/ou crônicas) que afetam, principalmente, crianças e idosos. Crianças abaixo de 5 anos representam 40% dos quadros de doenças relacionadas a contaminação alimentar.
Além disso, este problema sobrecarrega os sistemas de saúde, prejudicam o turismo e a economia.
A contaminação de alimentos acontece quando estes entram em contato (direto ou indireto) com substâncias ou elementos que normalmente representam risco à saúde. Isso pode ocorrer no campo, no produtor, caso haja a adição de alguns tipos de agrotóxico, principalmente em excesso, nas plantações, ou algum tipo de contaminação biológica durante processos de adubação ou irrigação; nos centros de distribuição, por falhas no armazenamento; nas indústrias ou em casa, por erros de higienização e manipulação durante o preparo.
A poluição ambiental, a falta de saneamento básico, as variações climáticas e temperaturas extremas também são fatores que favorecem à contaminação.
Segundo o Ministério da Saúde, existem – no mundo – mais de 250 tipos de doenças transmitidas por alimentos contaminados, sendo a maioria de fundo biológico, causada por bactérias, fungos, protozoários, vírus, algas, parasitas e suas toxinas.
Os principais sintomas causados por uma contaminação alimentar são: náuseas, dores abdominais, diarreia, vômito, desidratação, febre, falta de apetite, que podem evoluir para complicações diversas.
A sobrecarga de problemas gerados por estas doenças dificultam o desenvolvimento econômico de um país. Estima-se que o impacto da falha de segurança alimentar, principalmente devido a erros em estocagem, distribuição e manipulação, gera uma perda, aproximada, de US$100 bilhões às economias em desenvolvimento, por ano. Mas países desenvolvidos também apresentam índices alarmantes. Para se ter um exemplo, em 2011, na Alemanha, um surto da bactéria E. coli causou prejuízos de mais de 1,3 bilhão de dólares.
Dentro dos diversos cenários em que ocorrem a contaminação de alimentos, a maioria se enquadra nas categorias: biológica, química e física.
A contaminação Biológica é aquela causada por substâncias produzidas por organismos vivos: animais (incluindo Humano), vegetais e microrganismos (vírus, bactérias, protozoários, algas e fungos).
Para se ter ideia da amplitude dos riscos, em apenas 1 g de terra podemos encontrar mais de 100 milhões de microrganismos; uma única gota de saliva pode conter mais de 2 bilhões de bactérias; e mesmo a água que consideramos potável pode conter elevado número de microrganismos presentes... obviamente, e felizmente, nem todas são patogênicas, ou seja, capazes de desencadear doenças
Uma Bactéria mede, em média, de 0,3 a 2 μm (micrometro). Como exemplo, uma bactéria de 2 μm (2x10-4 mm), ou seja, 0,002 mm, enfileiradas em uma linha de 1 mm (1 mm dividido por 0,002 mm) resultariam em 500 bactérias. Em um quadrado de área 1x1 mm (500 x 500 unidades/mm) temos 250.000 bactérias (unidades/mm2). Dessa forma, em um cubo de 1x1x1 mm, o equivalente a um grão de areia, (250.000 x 500) temos 125.000.000 bactérias (125 milhões de unidades/mm3).
Um Vírus é ainda menor, cerca de 2 a 6 vezes menor que uma bactéria, medindo de 0,05 a 0,90 μm (caberiam mais de 250 milhões de unidades virais em apenas 1 mm3; ou, para ser “otimista”, aproximadamente 700 milhões em uma única gota de saliva).
O corpo humano contém, naturalmente, mais microrganismos que as próprias células que o compõe, ou seja, de 10 a 100 trilhões de células e de 200 trilhões a 2 quadrilhões de micróbios. Essa “flora” é vital ao nosso organismo, estando diretamente relacionada a diversos processos metabólicos (a digestão, por exemplo) e de extrema importância para nossa resistência imunológica.
Parte 2: A Contaminação Química
A contaminação Química ocorre quando os alimentos são submetidos ao contato – direto ou indireto – com substâncias e/ou reagentes químicos. Estes contaminantes podem ser de origem natural ou artificial.
A presença de compostos químicos estranhos ou de toxinas produzidas por microrganismos causam sérios danos à saúde publica mundial, com o agravante de quase sempre passar despercebida como causa primária, muitas vezes causando danos metabólicos de fundo crônico.
As contaminações químicas podem advir da própria matéria-prima, oriundas de substâncias usadas na produção agropecuária ou de contaminantes ambientais, ou de sua própria constituição; podem ocorrer de falhas no transporte ou armazenamento; por contato direto ou mesmo do próprio ar. Falhas no manuseio, durante o processo fabril, podem submeter os alimentos a diversas substâncias químicas que podem ocasionar graves contaminações.
Mas não para por aí... Mesmo após a industrialização ou distribuição de alimentos, encontramos muitas possibilidades de riscos. Isto pode ocorrer em depósitos ou prateleiras de supermercados ou na própria residência do consumidor. Muitos produtos de uso doméstico são possíveis meios de contaminação. Produtos de limpeza e higiene pessoal, aromatizadores de ambiente, inseticidas, produtos de jardinagem, medicamentos e outros, usados na própria residência, podem causar graves contaminações dos alimentos.
Outra fonte de contaminação química muito relevante são as embalagens e utensílios utilizados indevidamente no armazenamento ou preparo dos alimentos. Plásticos, isopor, metais, papel e até mesmo utensílios de madeira podem liberar moléculas ou compostos químicos perigosos, por reagirem com o calor ou frio extremo ou com outras substâncias usadas (vinagre, por exemplo) ou, ainda, com a composição do próprio alimento; ou por liberarem naturalmente moléculas tóxicas, como é o caso do alumínio, um grave contaminante causador de danos crônicos.
Substâncias geralmente presentes em alimentos industrializados, como corantes e conservantes, também são perigosos para a saúde. Não podemos aceitar que, pelo simples fato de estarem de acordo ao permitido, seja “atestado de segurança” e que não nos causem problemas. Podemos classificá-las como contaminantes sancionados, até porque muitos poderiam não estar presentes – como é o caso de corantes usados em cápsulas de suplementos alimentares – ou estar em concentrações significativamente menores. E estas substâncias, por fazerem parte do processo, dentro das indústrias, podem vir a exceder o percentual tolerado ou atingir outros produtos, que normalmente não os conteria, por falhas de manipulação ou acidentes.
As toxinas naturalmente geradas pelo próprio alimento devem ser consideradas e compreendidas. Essas substâncias naturais podem causar sérios problemas e são mais frequentes do que se imagina. Podem ser produzidas por microrganismos ou pelo próprio alimento, como os Glicoalcaloides produzidos pelas batatas, por exemplo, que poucos conhecem, mas que podem representar sérios riscos de saúde, por atingirem o sistema nervoso central. Estes glicoalcaloides estão contidos, em maior concentração, na casca e nas brotações, e geram uma coloração verde, quando em concentrações mais perigosas.
A contaminação química, ao contrário da biológica, é muito menosprezada e pode representar sérios prejuízos à saúde pública, muitas vezes de fundo crônico e desconsiderado, podendo levar a casos de reações alérgicas, a danos hepáticos, renais, hormonais e danos neurológicos severos, aumento no risco de doenças degenerativas e até o desenvolvimento de câncer, podendo levar à morte.
Parte 3: A Contaminação Física
A contaminação Física é aquela que ocorre quando um objeto ou corpo estranho – ou partícula não pertencente aos ingredientes – acaba entrando em contato com o alimento. Isso pode apresentar um risco adicional de trazer algum tipo de contaminação biológica ou química.
Dentro do processo produtivo, diversos materiais, usados ou não na produção ou manipulação dos alimentos, podem liberar partículas e acabar agregando-se a estes.
Coisas de uso comum ou mesmo totalmente estranhas aos processos, como fragmentos ou pedaços de algum utensílio ou peça de máquinas; partículas de vidro, madeira, rochas, areia, metais, minérios, plástico e papel; cabelo, unhas e pelos; fragmentos de plantas ou insetos; ou mesmo partes extraídas de alguma matéria-prima, como cascas, galhos ou ramos, folhas, ossos, sementes... até mesmo adereços ou peças de vestuários, como alianças, brincos, botões e outras partes que possam, acidentalmente cair durante o processo de fabricação ou preparo. Tudo aquilo que não faz parte do alimento ou de seus ingredientes é um corpo estranho, uma contaminação física, que pode representar diversos graus de risco.
A contaminação física, dependendo da matéria, pode, também, gerar uma contaminação química, por produzir reações e liberar ou gerar substâncias tóxicas; por isso, a atenção e controle no processo produtivo ou de preparo dos alimentos, mesmo em nossas cozinhas (preparação doméstica), é muito importante. É comum o uso de utensílios plásticos em nossas casas. Determinados materiais não devem ser submetidos a temperaturas extremas (calor ou frio) ou mesmo levados ao micro-ondas, pois podem liberar substâncias tóxicas, como é o caso do Estireno e do Bisfenol-A, substâncias altamente alergênicas e cancerígenas e que podem causar uma série de distúrbios gastrintestinais, metabólicos, imunológicos e neurológicos. O uso destes materiais requer cuidados. Geralmente, mesmo que se conheça esses riscos, as pessoas pensam que se trata somente da exposição ao calor e acabam submetendo estes utensílios ao uso para congelamento de alimentos, o que causa o mesmo dano.
As contaminações físicas podem levar a riscos diretos, relacionados à ingestão de partículas, que podem causar desde danos dentários, até problemas mais sérios de obstruções, lesões ou perfurações do trato digestivo, podendo até mesmo atingir outros órgãos.
A presença de corpos estranhos pode simplesmente descaracterizar um produto, gerando repulsa ou rejeição pelo alimento.
O impacto causado por um eventual descuido ou falha de produção ou manipulação de alimentos pode ser grave e causar danos à saúde individual ou coletiva ou mesmo causar prejuízos à empresa.
Por muitas vezes, a contaminação física está associada à contaminação biológica, pois não faz parte do processo, podendo representar um risco ainda maior.
... ...
...
..
.