quinta-feira, 24 de outubro de 2019

UM UNIVERSO EM NOSSAS MÃOS E O ESCRAVO PASSIONAL


UM UNIVERSO EM NOSSAS MÃOS E O ESCRAVO PASSIONAL


(Texto escrito para o Jornal Folha do Sudoeste,
edição de 26 de out de 2019)


Deixamos de pensar, quando fomos dominados pela tecnologia.

O raciocínio foi suprimido pela automatização...

E parece bobagem saber se escreve-se com “x” ou “ch”, “mexer” ou “mecher”... afinal, o corretor cumpre sua função, e não damos importância...

Sabemos que é imprescindível tomarmos algumas decisões na vida, mas não nos damos conta de que estamos sendo direcionados, de que nosso inconsciente está sendo escravizado pela massiva quantidade de informações, tendenciosamente desenvolvidas para cumprirem suas funções: conduzir-nos e decidir por nós.

A história da humanidade jamais presenciou uma forma de escravidão tão tranquila, submissa, conivente pelo próprio escravo, passiva e servil.

O advento dos “smartphones” trouxe uma condição única de controle, tão fácil e tão imperceptível, que nós próprios entregamo-nos. Não ditamos os objetivos dos planos, mas damos - “de bandeja” - todas as diretrizes a serem tomadas para nosso próprio controle e domínio.

Cada postagem, cada clique, cada mensagem que postamos, é uma parcela de um perfil, automaticamente criado, que facilita o direcionamento, a criação e desenvolvimento de ações de domínio.

Não sejamos tolos de achar que isto é teoria de conspiração!

As “fake news” fazem parte disto. Governos estão sendo instaurados, baseados nestas ações.

Tudo gira fundamentado neste grande universo que cada um de nós carrega em nossas próprias mãos. E, no entanto, não temos real controle sobre ele.

É fácil perceber o quanto estamos sendo  inconscientemente conduzidos, quando vemos, em redes sociais, uma mesma pessoa, em um momento declarando-se favorável à liberação da caça e, em outro, mostrando-se estarrecida com a matança cruel de uma onça...

Mentiras tornam-se “verdades”, tão rapidamente e de forma tão disseminada, que torna difícil ou até impossível de contestar, de corrigir...

"Cebolas espalhadas pela casa combatem doenças, o MST é uma organização criminosa, o quiabo combate a cinomose em cães ou uma atriz pornô internacional, em pose discretamente sensual, ganhou uma olimpíada de matemática e mora no nordeste brasileiro".

Simples assim!

Mentiras tão bem articuladas, planejadas e disseminadas que, mesmo após anos de desmentidas, continuam circulando e tornando-se “verdades”. Algumas são bobagens e outras, perigosas... e todas conduzem-nos à falta de raciocínio lógico ou de decisões conscientes.

Confia-se muito mais nas “fake news” que nos telejornais, mesmo sabendo que estes têm décadas de existência e uma equipe enorme e responsável para certificar a veracidade das informações... Estes podem errar, obviamente, e até mesmo “tendenciar” algumas informações a beneficio de alguns grupos, mas ainda assim, é mais confiável... e, aí, cabe o discernimento...

Muitos preferem acreditar nas postagens veiculadas nas redes sociais ou em suposições, em hipóteses empíricas, em "achismos", que em livros que retratam a história e que são reconhecidos no mundo todo.

Acreditam, tão cegamente, no "ilusionismo", naquilo que simplesmente vê sem qualquer análise do contexto – sem pensar –, que são facilmente conduzidos ao apoio daquele que escraviza.

"Qual quereis que vos solte, Barrabás, ou Jesus, chamado Cristo?"... "Solte Barrabás! Condene Jesus!", bradou o povo. Todos conhecem essa história, porém, vendo o que estamos vivenciando, passo a acreditar que nada entenderam disso tudo.

O que vemos é “meia dúzia” de pessoas sendo pagas para impactar, e uma multidão seguindo cegamente... e, assim, corre-se o risco de libertar os Barrabases de nossa era e tecer a coroa de espinhos para os nossos Cristos.

Sabemos que o pensamento consciente proporciona a capacidade de discernimento e solução de problemas e coloca-nos no controle de nossas vidas. Mas vivendo aprisionados em uma pequena tela, um mundo aberto em nossas mãos e que permite a outros conduzir-nos, é tão perigoso quanto dar-nos passivamente às correntes que detinham, sob domínio, os escravos, no início da história de nosso país.

Você pode estar se perguntando o que isso tem a ver com uma coluna pet. Posso responder, que tudo. Estamos vendo as pessoas sendo dominadas pelo modismo, de forma muito mais acentuada que em outras épocas. Gente confiando cegamente em postagens que se replicam de “site” a “site”, sem que sequer saibamos sua origem. Um moleque de 13 anos passando a ditar regras e sendo mais escutado e considerado que a opinião de um profissional...

Deixou-se de ouvir um profissional, com décadas de experiência, para seguir algum tutorial tolo e empírico ou um apanhado de "falsas verdades", colocando em risco a saúde de nossos animais e de nossas vidas.

Podemos pensar ou sermos conduzidos...

E cada um pode escolher o seu caminho...


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segunda-feira, 7 de outubro de 2019

PLASMADO PELAS ADVERSIDADES


Plasmado pelas adversidades



A misantropia, certa vez, esmagou minha alma...
Eu não tinha a menor ideia de onde estava, o que, realmente, fazia e que “diabos” faria dali para frente.

Percepção, pensamento, memória e razão...
Os mecanismos cognitivos, rapidamente, me abandonavam.

A vida, pouco a pouco, deixava de fazer sentido. E eu deixara o sentido da vida, feito água, passar por entre meus dedos.
Já não me importava com o que fora o passado, o que estava sendo o presente e o que, por fim, me reservava o futuro.
Minhas frases perderam o sentido.
As conclusões sobre o que era certo ou errado, pouco importavam.
Havia deixado muito, para trás, na busca de um futuro que agora não mais interessava. Eu não tinha mais aquela certeza do que, realmente, aspirava.

Um ímpeto fugaz...
Esta era a certeza que agora fazia sentido para mim...
Joguei-me no abismo do inconsciente mais profundo.

A vida era apenas dias... e os dias, intermináveis!
Um desespero latente e dissonante.

Mas nada é por acaso... Hoje sei... 
A crisálida do desespero é o caminho para a vida plena!

Aquela fase da minha vida passou despercebida para muitos. Eu engolia minha angústia, ao acordar pela manhã. Havia um longo percurso a percorrer e ninguém o faria por mim.
Tive momentos de lucidez e aprendi a lidar com aquela melancolia, ludibriar a solidão e subjugar os pensamentos negativos.
Jamais aprendi tanto sobre mim.

E a vida sempre toma seu curso...

Minha “nulidade-religiosa” – eponímia que inventei para não ter que explicar a condição de ceticismo – não me impede de analisar e compreender a natureza humana. Também não me impede de ver a razão das coisas, quando estas, realmente, fazem sentido. Na verdade, não ter um compromisso com essa “base religiosa”, possibilita-me “ver o jogo, de fora”, analisar friamente, sem sofrer influência da afeição, da culpa, do medo ou da “ideia pré-formada”.
Minha inquietude e curiosidade em relação àquilo que não domino, aliado ao senso crítico e autodidatismo, foi o que me levou a conhecer um pouco do que nós – humanos – arrastamos pelo tempo.
Todas as experiências de vida, sofrimentos e angústias, desafios e superações, tristezas e alegrias, podem ser comprimidas e transmutadas na mais pura lição de vida.

A crisálida do desespero é o caminho para a vida plena...

Cada obstáculo superado fica evidente, a quem faz da mente um instrumento de compreensão, de equilíbrio entre real e imaginário. E nada, nenhum destes obstáculos, nenhuma humilhação ou agressão sofrida precisa, necessariamente, ser transformado em ódio ou qualquer forma de revolta ou ojeriza.
A verdadeira lição de vida nunca está no outro...
Olhar para si, analisar o seu eu, pode trazer a luz para a compreensão, a paz como estrutura de conciliação, a verdade como um “sagrado” mecanismo sutil de superação.
O real sentido da vida não está fundamentado em religiões ou crenças...
O real sentido da vida é perpetuar o que há de melhor em cada um de nós. Assim, fazem todos os seres... lutam para a perpetuação de sua espécie e, de alguma forma, sabem: a continuidade de sua espécie é interdependente de outras, do equilíbrio, da complexidade que se faz simples quando se vive com princípios éticos reais...
A misantropia não deixou somente tribulações, não foi o algoz da minha razão, a mazela do tempo ou a chaga de minh'alma... foi a motriz da essência mais pura, o âmago insolente que enalteceu a verdadeira personalidade, o antagônico presságio... o prelúdio...
Somos moldados pelas adversidades.
A razão é parcimoniosa...

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