DIA
MUNDIAL DA ÁGUA:
A
Água para o Mundo
(22 de março, Dia Mundial da Água - Texto escrito para a Coluna Pet, do Jornal Folha do Sudoeste)
A água, abundante em nosso planeta, porém cada vez mais escassa para
consumo humano, constantemente traz preocupações com os mesmos
fantasmas: risco de racionamento, poluição, acidentes ambientais,
falta de gestão e insuficiente educação ambiental.
Cerca
de 40% da população mundial não conta com serviços de saneamento
básico. Cerca de 200 milhões de toneladas de esgoto são despejados
diretamente no meio ambiente a cada ano, contaminando solo, rios e
águas subterrâneas, além do próprio ar. Este fator está
diretamente ligado à saúde.
Um
relatório – de 2017 – divulgado pela Organização Mundial de
Saúde (OMS) e pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância
(UNICEF) confirma que mais de 2 bilhões de pessoas realmente sofrem
com a falta de água potável.
Não
podemos esquecer que a água que hoje utilizamos é a mesma de
bilhões de anos, pois ela apenas muda seu estado (líquido, gasoso e
sólido) em um ciclo eterno, de forma que sua contaminação pode
comprometer a nossa própria sobrevivência.
O
Brasil é bastante privilegiado em termos de reservas de água doce.
Aqui estão mais de 12% de toda a água doce do planeta.
Além de
algumas das maiores bacias hidrográficas do mundo, contamos com o
Aquífero Guarani, a segunda maior reserva subterrânea do planeta, e
o SAGA – Sistema Aquífero Grande Amazônia – apontado como o
maior do mundo, capaz de abastecer todo o planeta por cerca de 250
anos. Esta abundância traz, paradoxalmente, o risco do descuido ou
do descaso a nosso fabuloso patrimônio líquido. E isto pode ser
influenciado diretamente pelos desmatamentos e uso desenfreado de
fitossanitários (agrotóxicos) ou dos parasiticidas na pecuária. O
setor agropecuário é, sim, importante, mas há muito a ser
repensado.
A
notícia de que mais de 30% dos rios e represas do Estado de São
Paulo está impróprio para uso é preocupante e deve servir de
alerta.
O uso indiscriminado do Aquífero Guarani já aparece, em
regiões como o Norte do Paraná, com altos índices de contaminação
e desmoronamentos causados pela drenagem indiscriminada do subsolo.
O
marketing de empresas de águas minerais e poços artesianos têm
levado a população à desconfiança em relação à água tratada, de abastecimento público, alavancando o mercado de “águas
engarrafadas” e o crescimento pela procura por águas de poços
“artesianos”.
No
Brasil, estima-se que existam mais de 350.000 poços em atividade e
algumas centenas de perfurações inativas e abandonadas, que podem
estar contaminando as águas subterrâneas.
No
estado do Paraná, 20% da população é atendida com água
subterrânea; ao passo que em Santa Catarina esse índice não passa
de 5%. Em São Paulo, o cenário é bem diferente: cerca de 70% da
população é abastecida a partir de mananciais subterrâneos.
O
consumo de água engarrafada – águas minerais – cresce cerca de
12% ao ano, no mundo, apesar de seu alto preço comparado com a água
de torneira. As companhias negociam esta água como sendo uma
alternativa saudável; mas, de acordo com a Organização das Nações
Unidas para Alimento e Agricultura (FAO) e a OMS, “apesar de certas
águas minerais serem úteis na oferta de micronutrientes essenciais,
não há uma recomendação de concentrações mínimas de minerais”.
Acredita-se, inclusive, que algumas águas extraídas do subterrâneo
possam conter traços de alguns minerais ou outros compostos
perigosos à saúde.
Algumas
substâncias podem ser de difícil controle em água engarrafada,
devido ser estocada por longos períodos e a alta temperatura. Alguns
microrganismos podem alcançar altos níveis dentro de garrafas ou
“bombonas”, sem contar que as embalagens plásticas podem liberar
toxinas (Bisfenóis e Ftalatos).
Água “mineral” não deve ser
considerada uma alternativa sustentável em relação à água de
torneira. Não é isenta do risco de contaminação e é menos
eficiente em termos de gastos energéticos (gasta-se mais energia
para produzi-la).
Observamos,
na prática, que aquários mantidos com águas de subsolo geralmente
apresentam algum problema, a longo prazo. Isso porque os peixes refletem o problema
muito mais rapidamente que os seres humanos. Eles não só, simplesmente, bebem a água; eles vivem nela.
A
água potável é um direito básico. Proteger nossos rios, nascentes
e áreas úmidas ajudará a assegurar que nossa água de torneira
continue como um serviço público, que entrega água de boa
qualidade, para cada um, a um preço justo.
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