VENENO LENTO
A Poesia é leira
As sementes, à escolha
que cada um semeia
Concretas palavras
alicerce de tudo e nada
É o peso de papel da mente
e o vento que levanta poeira
A Poesia maltrata
açoita, atormenta
inquieta...
e rasga!
A poesia é ferro quente
o leite derramado
um retrato antigo
Uma clareira aberta
no meio da mata
A poesia é a espada
que atravessa o seu peito
Teia de aranha
que enrosca em seu cabelo
Hipermídia cega
Hipérbato efêmero
Poesia é um tapa na sua cara
Rio de lavas que ameaça
Por vezes, funda
as vezes, rasa
A Poesia é transe
Catarse que alenta, alimenta
As rosas lançadas pelo chão
É sangue, é ouro... o estopim...
desassossego que medeia
A Poesia acalma ou alerta
sentencia, enfurece, incendeia
agride, incita ou desperta
A Poesia é gênese pura
concebe a fúria, acinética
gesta eloquência, muda
nascença que eletriza, métrica
Lascívia da falsa moral
semântica absurda
catatonia dos preceitos
preconceitos desalinhados
Não é o bem... sequer o mal
e não se deixa dominar
A Poesia é o elixir para almas perdidas
frases que gritam
e não permitem olvidar
A Poesia é queda livre
a flechada que infringe...
um revide!
Veneno Lento
que à consciência
não agride...